Mesmo sendo um dos melhores lutadores do mundo, Junior Cigano tem de lidar com críticas rotineiramente. Não é algo agradável, pode-se garantir, ainda mais quando elas vêm de quem não conquistou nesse sentido o respeito do peso-pesado. Na segunda luta contra Cain Velásquez, no fim do ano passado, Cigano foi castigado pelo americano durante cinco rounds e viu o rival lhe tomar o cinturão da categoria até 120kg do Ultimate. Desde então, lê e escuta muita coisa por parte dos "experts" de luta, como ele mesmo definiu. E um nome mais famoso, Daniel Cormier, que é parceiro de treinos e amigo do atual campeão, entrou na onda ao criticar a preparação do brasileiro após assistir ao "Primetime" e dizer que todos verão um Velásquez totalmente diferente no UFC 166, neste sábado. Cigano tem a resposta para Cain, Cormier e afins:
- O Cain Velásquez agora é o campeão, mas eu assisto muito às lutas dele, estudo o que ele tenta fazer e o que ele não tenta, e não quer dizer que tudo o que ele vai tentar fazer vai funcionar. Ele pode estar treinando o que quiser. Agora, se vai funcionar, é outra história. Hoje em dia tem muitos "entendidos" de luta. A gente está vendo aí os “experts” de luta, e isso não existe, principalmente no MMA. Você entra lá, você nunca sabe o que vai acontecer. Às vezes em um piscar de olhos a luta muda completamente.
No quarto do hotel onde está hospedado em Houston (EUA), Cigano gentilmente atendeu ao pedido de entrevista da reportagem. O ex-campeão, que polemizou meses atrás ao dizer que Velásquez "bate que nem uma moça", admitiu que o comentário foi inoportuno, mas garantiu não se arrepender do mesmo:
- Eu falei realmente e não me arrependo. Falei na boa e sou responsável pelo que eu falo e não pelo que os outros entendem. As pessoas levaram completamente de outra forma. Eu falei na frente dele e não foi com a intenção de faltar com o respeito. Pelo contrário, não faço isso com nenhum dos meus oponentes. Mas sim, foi um comentário meio que infeliz porque as pessoas gostam de se apegar a coisas ruins e polêmicas e tentar fazer você perder um pouco da admiração do público.
Cigano e Velásquez vão disputar a trilogia no Toyota Center, novamente valendo cinturão. Se nocauteou o oponente na primeira vez em que se encontraram, o brasieiro diz que o "overtraining" (treino excessivo) atrapalhou na derrota da segunda luta:
- Isso aconteceu por conta do treinamento mesmo, dessa coisa de não ter um acompanhamento sério e você ir levando tudo no "feeling". E é aquilo, a gente gosta de treinar duro, aliás, por mais que você não esteja nem conseguindo mais, a gente tem aquela cultura do “mais um”. Do tipo, vai que dá mais um round, mais um minuto. E você sempre continua tentando, e isso desgasta o seu corpo. No início do treinamento, tudo bem. Você responde bem até a isso. Mas, com o acúmulo das reações, você acaba tendo o overtraining.
Junior Cigano rebateu Daniel Cormier em outro aspecto, ao afirmar que não vê o que Velásquez pode fazer de tão diferente para chegar ao ponto de surpreendê-lo. Ele comentou ainda o ganho de velocidade nos treinamentos, a renovação de contrato de patrocínio com o Corinthians até 2015, entre outros. A seguir, veja a entrevista na íntegra, por tópicos:
Físico mais definido em relação às lutas ateriores
"Não treinei especificamente para isso. É devido ao tipo de treino que estamos fazendo. Eu não estou fazendo nada, é devido ao treinamento duro. Acho que estou levando mais a sério o treino. Estou evoluindo mais e treinando com mais qualidade também. Acho que o corpo vai respondendo".
Mudança na equipe após a derrota para Cain
"Desde a última luta eu já senti uma diferença grande. São coisas e detalhes que até no início do camp (período de preparação para a luta) te fazem pensar: “Poxa, eu estou gastando dinheiro com esses caras e eles não fazem nada”. Você fica com receio, mas depois, conforme o camp vai passando e você precisa realmente de um resultado desse, aí você vê a resposta e a importância de ter um cara desses ao seu lado. Então, eu tenho um fisiologista que me acompanha sempre agora e estou fazendo um trabalho mais completo e mais profissional também. A gente sempre vai “nas tora”, né? Tem aquela coisa de “vai que você precisa ser homem, precisa resistir mais”, “vai que você não vai morrer de cansaço”, e não existe isso. Eu sempre treinei assim e agora estou sabendo a cada treino o quanto posso puxar, se estou livre para puxar um treino bem duro ou se tenho que dar uma segurada. Então, nesse camp agora, até porque eu tive o overtraining na minha última luta com o Velásquez, as respostas que tive foram muito boas, e o fisiologista foi extremamente necessário. Até porque, em alguns momentos, ele falou que eu tinha que segurar. Em alguns dias eu tive que ficar o dia todo sem fazer nada, só relaxar, descansar, fazer massagem, porque o corpo estava respondendo que os treinos estavam exagerados. Então essa preocupação é, sim, muito importante".
Overtraining na segunda luta
"Não foi por conta da empolgação. Empolgado a gente sempre está, né? Para qualquer luta. Isso aconteceu por conta do treinamento mesmo, dessa coisa de não ter um acompanhamento sério e você ir levando tudo no "feeling". E é aquilo, a gente gosta de treinar duro, aliás, por mais que você não esteja nem conseguindo mais, a gente tem aquela cultura do “mais um”. Do tipo, vai que dá mais um round, mais um minuto. E você sempre continua tentando, e isso desgasta o seu corpo. No início do treinamento, tudo bem. Você responde bem até a isso. Mas, com o acúmulo das reações, você acaba tendo o overtraining. Eu não sabia. Eu soube depois da luta, que fui para o hospital e o médico lá de Las Vegas me falou que eu tinha exagerado nos treinos e que o meu nível de creatina estava um absurdo, e que aquilo não era recente, que vinha de uma sequência grande de treinamento. E ali eu vi o quanto estava equivocado. Mas isso está corrigido. Vivendo e aprendendo, e está aprendido".
Preocupação em ficar mais rápido por causa do condicionamento físico de Cain
"Sempre tem essa preocupação, né? Eu gosto de manter a minha velocidade, não gosto de subir muito o peso. Mas desta vez eu subi um pouco. Fiz o camp com 113 kg, o que normalmente é muito para mim. Estou sempre em torno de 110kg, no máximo 112kg, e desta vez subi um pouco mais, mas me senti bem. Não foi do nada, é a primeira vez que estou seguindo uma dieta melhor. Comecei no final do camp, mas estou seguindo à risca. Eu acho que o meu corpo tem respondido um pouco mais. Fiquei um pouco mais pesado, mas acho que no dia da luta vou estar com o mesmo peso novamente, mantendo a velocidade, mas mesmo assim forte".
Após assistir ao Primetime, Cormier disse que Cain virá totalmente diferente
"Isso é falação. O Velásquez nunca foi de falar nada, espero que continue assim, né? Ele nunca falou besteira, mas às vezes a gente é obrigado ou às vezes interpretam mal uma frase da gente e levam por esse lado. É complicado. Eu não vejo o que ele pode fazer de tão diferente. Eu acho o Velásquez um lutador bastante completo, não vejo muito como ele pode mudar tanto. Se ele não fizer o que ele faz bem, que é botar aquela pressão e puxar pelo gás e a vantagem do condicionamento físico - que é o mais importante dele -, ele vai perder muito. Acho que isso é o principal que ele tem: o condicionamento físico, a pressão, o wrestling, aquele jogo ali. Ele acabou de ganhar a faixa preta no jiu-jítsu, e acho que um campeão é feito de superar os próprios desafios. Espero poder lutar contra o melhor do Cain Velásquez. Então, ele pode tentar o que quiser, porque vou fazer o mesmo e tenho certeza de que será uma grande luta, porque hoje ele me conhece mais e eu o conheço mais também. E quem vai ganhar com isso são os fãs".
Cormier disse também que Cigano está treinando errado
"No Primetime, eles filmam alguma coisa. Mas eu sempre treinei duro e bastante para qualquer tipo de lutador, e não importa quem ele seja. O Cain Velásquez agora é o campeão, mas eu assisto muito às lutas dele, estudo o que ele tenta fazer e o que ele não tenta, e não quer dizer que tudo o que ele vai tentar fazer vai funcionar. Ele pode estar treinando o que quiser. Agora, se vai funcionar, é outra história. Hoje em dia tem muitos "entendidos de luta”. A gente está vendo aí os “experts” de luta, e isso não existe, principalmente no MMA. Você entra lá, você nunca sabe o que vai acontecer. Às vezes em um piscar de olhos a luta muda completamente. Um passo atrás no momento errado ou algo desse tipo, qualquer besteira muda a luta completamente. Então você nunca sabe o que vai acontecer. Eu sei que ele está bem preparado, eu também estou e tivemos a experiência da última luta. Foram cinco rounds e até fizeram um comentário, que não sei se é verdade, que ele segurou a luta para me punir. Mas seja como for, ele deu o melhor dele para finalizar a luta e não conseguiu, então eu acho que ele vai vir da mesma forma, tentar a mesma coisa. Ele pode até estar vindo com uma nova estratégia, mas no momento em que a luta começar e ele vir que é um momento diferente, já vai voltar para o básico que faz, que é derrubar e ficar ali amassando, buscando a luta desse jeito".
Cain Velásquez tem pontos fracos?
"É difícil poder falar de um ponto fraco dele. Eu acredito que seja realmente em relação a mim, não em relação a outros adversários, mas seria a parte da trocação. Acho que ele é muito superior a mim no jogo agarrado, mas na parte de trocação eu me considero superior a ele, e é ali que eu vejo o ponto fraco dele em relação a mim".
Arrependeu-se do “bater como uma moça” que disse sobre o Cain?
"Eu falei realmente e não me arrependo. Falei na boa e sou responsável pelo que eu falo e não pelo que os outros entendem. As pessoas levaram completamente de outra forma. Eu falei na frente dele e não foi com a intenção de faltar com o respeito. Pelo contrário, não faço isso com nenhum dos meus oponentes. Mas sim, foi um comentário meio que infeliz porque as pessoas gostam de se apegar a coisas ruins e polêmicas e tentar fazer você perder um pouco da admiração do público. E isso foi uma brecha para elas fazerem isso, usarem isso para me deixar mal, falando que eu tinha desrespeitado e que, se ele batia que nem uma moça, olha só como a moça deixou a minha cara daquele jeito. Mas pega uma moça magrinha e deixa ela me batendo durante cinco rounds no mesmo lugar para ver se não vai ficar daquele jeito... Fica sim (risos). Então, não foi intencional. Acho que o próprio Cain entendeu. Mas como se tem a promoção da luta, eles gostam de elevar a rivalidade".
Reação do Cain pessoalmente sobre a frase
"Nunca conversei diretamente com ele sobre isso. A gente pouco conversa. Nessa turnê que nós fizemos antes, foi a primeira vez que pudemos ter um pouco mais de contato um com o outro, até porque estávamos todos juntos. Saíram alguns sorrisos e brincadeiras, mas nada de mais além disso. A gente nunca conversou muito um com o outro. É aquele clima de rivalidade que é bom manter às vezes. Porque queira ou não, ele está defendendo o bem-estar da família dele e eu, o meu e o da minha. Então a gente tem essa rivalidade sim".
Rivalidade com Cain é a maior do mundo no MMA hoje?
"Não sei dizer se é a maior do mundo hoje, mas é uma rivalidade boa. E vou te dizer que, para mim, tem sido legal. É claro que eu não queria ter perdido a minha luta e por mim estaria lutando contra ele novamente sim, mas como o vencedor das lutas anteriores. Mas eu acho que a gente vai acabar lutando mais vezes. Ele diz que não, e eu não sei por que ele diz isso. A gente é novo ainda, tem muita carreira pela frente e com certeza vão acabar acontecendo outras lutas entre nós. E eu quero ganhar a maioria delas. Ou todas, a partir de agora".
O terceiro capítulo do duelo
"Para mim, esta luta é motivação pura. Estou me sentindo muito bem. A nossa confiança vem do treinamento, de quando você consegue treinar bem. Eu já fiz uns treinos aqui em Houston e estou me sentindo bem. E é isso que eu peço a Deus, para que chegue o momento e não aconteça o que aconteceu da última vez, quando me deu um branco e eu não sabia o que fazer. E foi exatamente isso que aconteceu. Eu dei muito espaço para ele. Então peço para que eu possa mostrar um pouco de tudo o que eu treinei. Tanto ele quanto eu temos tudo para fazer uma grande luta. Ele, pelo estilo agressivo de buscar o duelo o tempo todo, e eu, porque acredito que posso nocautear qualquer um no mundo. Vou para isso de novo e sempre vou entrar nas minhas lutas pensando assim".
Final ideal desta luta
"O ideal? Difícil falar, eu não penso exatamente em como eu quero que acabe a luta, só quero que acabe comigo vencedor. Mas com certeza eu acho que esta luta vai durar uns três rounds pelo menos, e eu vou nocauteá-lo. Porque vai ficar imposto o jogo que realmente é o melhor do mundo. Na primeira vez, foi exatamente o que eu me proponho a fazer, do jeito que eu gosto: nocaute. Na segunda vez, foi exatamente o que ele faz: pressão e o tempo todo ali em cima. Agora a gente vai ver qual das duas formas vai funcionar, mas acho que a minha vai funcionar melhor. Vou nocautear".
Focar treinos no seu ponto forte, e não no ponto forte do adversário
"Estudar sim, eu não posso é querer me equiparar ao wrestling dele. Eu nunca vou chegar. Ele treinou wrestling a vida inteira e, mesmo que eu treine os três meses, não vou chegar ao nível dele. Então é exatamente isso, e uma coisa que priorizei até na segunda luta foi pensar muito nas quedas, no que ele é bom, e acho que não posso fazer isso. Você tem que priorizar o seu jogo, e não fazer as coisas do jeito dele. Ou então com certeza você tem que treinar um pouco de tudo, até para saber se defender de tudo o que ele faz de melhor. Mas não que você tenha que tentar surpreender ou ganhar dele na área dele".
Renovação com o Corinthians até 2015
"Para mim, está tudo ótimo. Como corintiano, meu pai era corintiano e tudo mais, eu estou feliz. Acho que tenho tido uma resposta muito boa com tudo o que está acontecendo. O Corinthians é um grande clube apoiando o nosso esporte e, para mim, isso é muito gratificante. Acho até que é uma nova parte do nosso esporte no Brasil, ter o apoio de grandes clubes assim como o Corinthians. Outros clubes já tentaram apoiar outros atletas e desistiram facilmente, e o Corinthians continua ali com a gente, coisa que está dando certo tanto para nós quanto para eles. Eu fico muito feliz com esse apoio. Independentemente de time de futebol, o Corinthians não é só futebol, tem mais de 30 modalidades lá dentro e há muita gente competindo e representando o clube. E espero que os outros clubes possam seguir o que o Corinthians está fazendo para elevar o nosso esporte até a um outro nível, porque a experiência que todos esses clubes têm é muito grande e, se eles puderem dividir essa experiência com outros atletas, como o Corinthians está fazendo comigo, vai ser uma grande coisa. E eu estou muito feliz com a parceria e espero continuar por muito tempo".
O canal Combate transmite a pesagem às 18h (de Brasília) de sexta-feira e todas as lutas do evento a partir de 19h15m do próximo sábado. O Combate.com também exibe a pesagem e acompanha o UFC 166 em Tempo Real no sábado, além de transmitir o duelo entre Dustin Pague e Kyoji Horiguchi, pelo peso-galo, ao vivo.
UFC 166
19 de outubro de 2013, em Houston (EUA)
CARD PRINCIPAL
Cain Velásquez x Junior Cigano
Daniel Cormier x Roy Nelson
Gilbert Melendez x Diego Sanchez
Gabriel Napão x Shawn Jordan
John Dodson x Darrell Montague
19 de outubro de 2013, em Houston (EUA)
CARD PRINCIPAL
Cain Velásquez x Junior Cigano
Daniel Cormier x Roy Nelson
Gilbert Melendez x Diego Sanchez
Gabriel Napão x Shawn Jordan
John Dodson x Darrell Montague
CARD PRELIMINAR
Tim Boetsch x CB Dollaway
Nate Marquardt x Hector Lombard
Sarah Kaufman x Jessica Eye
George Sotiropoulos x KJ Noons
T.J. Waldburger x Adlan Amagov
Tony Ferguson x Mike Rio
Kyoji Horiguchi x Dustin Pague
Jeremy Larsen x Andre Fili
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